PROFESSORA DE SÃO JOÃO PEDE RESPEITO À PROFISSÃO

Uma professora concursada da Prefeitura de São João não gostou de um comentário feito por um radialista que comanda um programa de grande audiência numa rádio local.

Sentindo que sua profissão foi desrespeitada, a professora escreveu uma carta fazendo um desabafo para o comunicador. Um amigo da educadora, também morador de São João, enviou uma cópia do texto do blog,  solicitando a publicação e resolvemos atendê-lo por se tratar de um texto sério, elegante, sem nenhuma agressão a quem quer que seja. Apenas ela defende a profissão que escolheu seguir na vida e deixa claro que não aceita que tentem achincalhar a nobre missão de ensinar.

Não sabemos o nome do radialista, mas muita gente em Garanhuns e no município vizinho deve saber de quem se trata.

Segue o texto completo da carta da professora, muito bem escrito, por sinal:

Cresci ouvindo sua voz, em minha cidade és referência como comunicador, o que te dá uma enorme responsabilidade. Não sabe o quanto pesa aquilo que propagas, os teus ouvintes são também teus discipulados crendo na veracidade e credibilidade do que dizes.

   

Durante muitos anos tua fala ecoou com grande admiração e carinho no rádio da minha avó, que até os dias atuais é sua ouvinte assídua e crédula. E eu ouvia, as vezes ela até silenciava as minhas brincadeiras para ouvi-lo. Estudei, me formei, estudo ainda hoje para ser uma especialista em Educação. Prestei concurso público para o município de São João, fui aprovada entre os primeiros lugares. Recentemente fiquei muito orgulhosa em ouvir o nome da escola em que leciono ser anunciado juntamente com o meu por você por ocasião do desfile cívico. Contei a minha ascendente que ficou mais orgulhosa ainda.

Há dois meses que as datas dos nossos salário são modificadas sem prévia comunicação pelo referido município. Desta feita na primeira vez sua fala questionava a fidedignidade da informação prestada por alguns professores (profissionais sérios e competentes), acompanhei também a entrevista com o Excelentíssimo Sr. Genaldi Zumba e o secretário Marcos Bonieck. Em ocasião percebi seu esforço para reafirmar o pagamento para o dia de hoje, juntamente com o prefeito.

Quero reforçar também que muito aprecio a culinária regional. E comer um “cuscuzinho” é um privilégio pois sou Pernambucana, Nordestina e minhas raízes muito me orgulham. De modo que a irônica colocação na qual você nos mandava ter: “calma, que vai dar pra comprar, comer um cuscuzinho”, não me soa depreciativa, apesar de suas palavras terem sido empregadas com ar de deboche e ausência de reflexão.

Somos cidadãos de direitos, funcionários públicos efetivos em caráter irrevogável e irretratável. Não estamos pedindo um favor não. Estamos reivindicando o que é nosso por direito. E a sua retenção é ilegal. Quero reafirmar aqui que não somos ingênuos ao ponto de acreditar que o banco vai separar quantias. Essas quantias são repassadas por comando pelo município. E isso é uma operação automática.

O banco não tem nenhuma responsabilidade nesse sentido, não, uma vez o comando sendo dado o banco pagará no mesmo dia. De igual modo o comando não sendo dado o banco não tem autonomia de instrumentalizar esse dinheiro.

Hoje venho demonstrar com esse relato a minha indignação diante da forma descompromissada com que um problema social foi tratado por vossa senhoria, e de forma respeitosa quero lhe dizer que o jornalismo deve ser feito de forma IMPARCIAL, ter amizade com governantes é importante, trabalhar para eles quando convocados também é bom. Pois todos nós temos o direito de ganhar o nosso dinheiro. Mas isso não pode e nem deve influenciar em nada a nossa função e o nosso compromisso com o povo. Hoje mesmo sem receber fui dar minha aula pois sei que o futuro dos meus queridos alunos também está nas minhas mãos.

Esse é o meu compromisso! Eu não falhei com o meu dever. Pois os meus interesses não podem se sobrepor ao juramento que fiz diante das bandeiras do meu País, Estado e da honrosa bandeira de Universidade Federal Rural de Pernambuco.

Se lhe escrevo hoje é por acreditar que o Jornalismo assim como a Educação devem ser levados a sério neste país já tão judiado pelas mazelas sociais e pelo descompromisso de alguns.

M***, não satirize com um problema sério e que está afetando inúmeros pais de família e profissionais, que assim como você precisam alimentar os seus filhos pelo menos com um “cuscuzinho”.

Reafirmo os meus votos de carinho, porém sem a mesma admiração anteriormente expressa.

Somos professores, semeadores de ideais, mediadores de conhecimento, instrumentalizadores do saber e conhecimento universal.  

Merecemos respeito! 

ESCLARECIMENTO - A pessoa de São João que enviou a cópia da carta informou inicialmente que a responsável pelo texto impecável se chama Maria Alcione. Agora há pouco fomos informados que existem duas professoras com o mesmo nome no município. 

Maria Alcione Campelo é a real autora da carta. Uma pessoa educada, competente que escreve muitíssimo bem, conforme já frisamos.