ESPECIAL - José Condé, escritor natural
de Caruaru, nasceu em 1917, portanto no próximo ano deve ser comemorado o seu
centenário.
É de se esperar que Raquel
Lyra, que já terá assumido a Prefeitura, elabore uma programação festiva e
cultural à altura do nome do romancista, autor de Histórias da Cidade Morta, Pensão Riso da Noite, Vento do Amanhecer em
Macambira, Tempo Vida Solidão e Terra de Caruaru, entre outras obras
reconhecidas pela crítica literária nacional.
Infelizmente, da mesma
maneira que Luís Jardim, o grande nome da literatura nascido em Garanhuns,
Condé está quase que esquecido e seus livros não são encontrados atualmente nas
livrarias, a não ser nos sebos.
Condé nasceu na capital do
Agreste, depois viveu em Recife, Petrópolis e finalmente no Rio de Janeiro,
onde se consagrou com suas novelas e romances.
A prosa do caruaruense é
simples, mas trata dos dramas humanos, da solidão, expõe a crueldade de homens
brutos e se compadece das mulheres de pouco ou nenhum futuro.
Em “Terra de Caruaru”, um dos
seus livros de maior êxito, mesmo sendo uma obra de ficção, José Condé conta a
formação histórica da cidade, criando personagens fortes, alguns parecendo bem
reais, lembrando pessoas que nós conhecemos em algum momento, nesses agrestes.
Mesmo morando no Rio de Janeiro,
o escritor nordestino não esqueceu suas raízes e nos seus livros contou
histórias passadas em Caruaru, no Recife ou cidades fictícias da região.
Tanto soube abordar os dramas
rurais, de cunho regional, como a solidão nos centros urbanos, como faz com
maestria ao narrar a vida do velho Naé, um “pobre diabo” vivendo em quase
completa miséria e solidão, convivendo com pobres como ele na área do Cais do
Apolo, na capital pernambucana.
José Condé morreu com pouco
mais de 50 anos, em 1971, deixou uma dezena de livros que merecem ser conhecidos
por quem gosta da boa literatura com um toque regional, sem deixar de ser
universal.
O homem, a vida, as
incertezas, a angústia, o sofrimento, o seu tempo... tudo isso está na obra de
Condé, que deve ser motivo de orgulho para os caruaruenses e pernambucanos.
Abaixo, um pequeno trecho de “Tempo,
Vida, Solidão”, que expressa bem a força da literatura do escritor nascido em
Caruaru:
O
mundo era um só; onde estivesse o ser humano, aí estaria o mundo com suas
esperanças ou tristezas. O mundo estava naquele bar sujo e sórdido perdido numa
noite do Recife, onde dois garçons, em silêncio, observavam um velho, que,
diante da mesa de mármore cheia de nódoas e moscas, bebia, impassível, um
cálice de aguardente.
Rompendo
o silêncio, o garçom português disse ao garçom mulato:
-
Com efeito, a velhice deve ser uma coisa triste.
Entretanto,
o velho Naé estava pensando: “Há muitos dias não me sinto tão feliz como hoje”.
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