Do
jornalista Homero Fonseca*
Lançado
em 1934, o sempre assaz louvado Guia pratico, histórico e sentimental da
cidade do Recife, de Gilberto Freyre, é, como o
nome indica, precursor dos atuais guias turísticos. Entretanto, sendo seu autor
quem é, não há de espantar as tiradas poéticas, observações agudas e
idiossincrasias do texto, de cambulhada com um número espantoso de dados
numéricos, históricos e culturais da cidade.
É
o caso do trecho em que o sociólogo fala dos encantos dos mares recifenses,
inclusive histórias populares de fantasmagóricas aparições de criaturas
fantásticas, em que se insere o delicioso caso do aparecimento de tubarões (já
naquela época!).
Acompanhem-me:
“De
1900 até hoje, nunca mais deu às praias das vizinhanças do Recife nenhum peixe
cabeludo nem monstro marinho. Uma vez por outra, algum resto enorme de baleia.
Ou então um tubarão ainda vivo que dizem se anunciar por um cheiro bom de
melancia.
Tubarão
há na verdade muito pelas águas do porto do Recife. Às vezes, os vapores saem
seguidos por uma porção deles. E ai do coitado que cair no mar, dia de tubarão
assanhado! Os recifenses guardam a memória do velho prático da barra, Herculano
Rodrigues Pinheiro, que uma noite de escuro caiu no mar e nunca mais se soube
dele: dizem que os tubarões o comeram.
Outros
se lembram de um homem que, no tempo da antiga Lingueta, estava sempre na beira
do cais mancando entre os remadores fortes: esse dizem que tinha um pedaço de
bunda tirado. Dentada de tubarão.”
*Homero Fonseca,
natural de Caruaru, é escritor e jornalista
profissional, com passagens pelos principais jornais do Recife e sucursais da imprensa do Sudeste. Foi Secretário de Imprensa da Prefeitura da capital, numa
das gestões de Jarbas Vasconcelos e editor da Revista Continente Multicultural,
na melhor fase da publicação.
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