A Revista Época e a TV Globo comprovaram neste
final de semana que temem uma possível candidatura de Lula na eleição
presidencial de 2018. A publicação impressa publicou reportagem sobre o
empréstimo do BNDES para construção do Porto de Mariel, em Cuba. O Jornal
Nacional repercutiu a matéria do veículo da mesma Empresa, procurando deixar
uma imagem negativa do ex-presidente petista, que teria usado de sua influência
no negócio com a ilha comunista.
A Época e a emissora de TV esqueceram que esse
assunto foi discutido na última campanha eleitoral, inclusive nos debates entre
os candidatos, tendo Dilma Rousseff explicado a questão do Porto de Mariel. A
obra é considerada estratégica pelo Governo, que teria levado em conta o interesse
de empresários nacionais. A versão dos petistas é que a obra trouxe dividendos
para o Brasil.
O ataque cerrado da Globo, que dedicou seis minutos
do Jornal Nacional (um tempo enorme em televisão) para falar mal do
ex-presidente, mereceu hoje uma resposta do Instituto Lula. Através de nota, a
entidade criticou o jornalismo praticado pelos empregados da família Marinho, acusando
a Revista Época de falsear a verdade dos fatos.
Abaixo a nota do Instituto Lula:
Mais uma vez a
revista Época divulga reportagem ofensiva ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, com afirmações falsas e manipulação criminosa de documentos oficiais.
Avançando em
ilações maliciosas e irresponsáveis, pelas quais seus jornalistas já foram
citados em ação judicial por danos morais movida pelo ex-presidente Lula, a
revista insiste em atribuir ao ex-presidente condutas supostamente ilícitas que
ele jamais adotou ou adotaria.
A matéria deste
final de semana (29/08) é uma combinação de má-fé jornalística com ignorância
técnica (ou ambas) e o único crime que fica patente, após a leitura do texto, é
o vazamento ilegal de documentos do Ministério das Relações Exteriores que, de
acordo com a versão da revista, tiveram o sigilo funcional transferido ao
Ministério Público.
Ao contrário do que
sustenta a matéria, a leitura isenta e correta dos telegramas diplomáticos
reproduzidos (apenas parcialmente, como tem sido hábito de Época) atesta a
conduta rigorosamente correta do ex-presidente Lula em seus contatos com as
autoridades cubanas e com dirigentes empresariais brasileiros.
A presença de um
representante diplomático do Brasil numa reunião do ex-presidente com
dirigentes de empresa brasileira demonstra que nada de ilícito foi ou poderia
ter sido tratado naquele encontro. O mesmo se aplica ao relato, para o citado
diplomata, da conversa de Lula com Raul Castro sobre o financiamento de
exportações brasileiras para Cuba. Só a imaginação doentia que preenche
os vácuos de apuração dos jornalistas de Época pode conceber um suposto
exercício de lobby clandestino com registro em telegramas do Itamaraty.
Os procedimentos
comerciais e financeiros citados nos telegramas diplomáticos são absolutamente
corriqueiros na exportação de serviços, como os jornalistas de Época deveriam
saber, se não por dever de ofício, pelo simples fato de que trabalham nas
Organizações Globo. A TV Globo exporta novelas para Cuba desde 1982, exporta
para a China e exportou para os países de economia fechada do antigo bloco
soviético.
Deveriam saber que,
em consequência do odioso bloqueio comercial imposto pelos Estados Unidos,
empresas que fazem transações com Cuba estão sujeitas a penalidades e
restrições pela legislação dos EUA. Por isso, evitam instituições financeiras
sujeitas ao Office of Foreign Assets Control, que é uma agência do governo dos
EUA e não um “organismo internacional de fiscalização”, como erra a revista.
Ao contrário do que
o texto insinua, maliciosamente, não há, nos trechos reproduzidos, qualquer
menção a interferência do ex-presidente em decisões do BNDES, pelo simples fato
de que tal interferência jamais existiu nem seria possível, devido aos
procedimentos internos de decisão e aos mecanismos prudenciais adotados pela
instituição.
Os jornalistas da
revista Época deveriam conhecer o rigor de tais procedimentos e mecanismos,
pois as Organizações Globo tiveram um relacionamento societário com o BNDESPar,
subsidiária do BNDES. Em 2002, no governo anterior ao do ex-presidente Lula, ou
seja, no governo do PSDB, este relacionamento se estreitou por meio de um
aporte de capital e outras operações do BNDESPar na empresa Net Serviços,
totalizando R$ 361 milhões (valores de 2001).
Deveriam saber que
em maio de 2011, por ocasião da mencionada visita do ex-presidente a
Havana, o financiamento do BNDES às obras do Porto de Mariel estava aprovado,
havia dois anos, e os desembolsos seguiam o cronograma definido nos contratos,
como é a regra da instituição, que nenhum suposto lobista poderia alterar.
Em nota emitida
neste sábado (29) para desmentir a revista, o BNDES esclarece, mais uma vez,
que “os financiamentos a exportações de bens e serviços brasileiros para as
obras do Porto de Mariel foram feitos com taxas de juros e garantias
adequadas”, e que os demais contratos mencionados não se realizaram. Acrescenta
que “o relacionamento do BNDES com Cuba foi iniciado ainda no final da década
de 1990, sem qualquer episódio de inadimplemento ou atraso nos
pagamentos.”
Os jornalistas da
Época deveriam saber também que não há nenhum ilícito relacionado às palestras
do ex-presidente Lula contratadas por dezenas de empresas brasileiras e
estrangeiras, entre elas a Infoglobo, que edita o jornal O Globo. Deveriam,
portanto, se abster de insinuar suspeição sobre esta atividade legal e legítima
do ex-presidente.
Tanto em Cuba
quanto em todos os países que visitou desde que deixou a presidência da
República, Lula trabalhou sim, com muito orgulho, no sentido de ampliar
mercados para o Brasil e para as empresas brasileiras, sem receber por isso
qualquer espécie de remuneração ou favor. Lula considera que é obrigação de
qualquer liderança política contribuir para o desenvolvimento de seu País.
Os jornalistas da
Época deveriam saber que todos os grandes países disputam mercados
internacionais para suas exportações. E que não fosse o firme empenho do
governo brasileiro, para o qual o ex-presidente Lula contribuiu, talvez o
estratégico porto de Mariel fosse construído por uma empresa chinesa, ou os
cubanos estivesses assistindo novelas mexicanas. Neste momento histórico, em
que EUA e Cuba reatam relações e o embargo econômico americano está prestes a
acabar, a revista Época volta no tempo a evocar velhos fantasmas da
Guerra Fria e títulos de livros de espionagem.
Ao falsear a
verdade sobre a atuação do ex-presidente Lula no exterior, os jornalistas da
revista Época tentam criminalizar um serviço prestado por ele ao Brasil. O
facciosismo desse tipo noticiário é patente e desmerece o jornalismo e a
inteligência dos brasileiros.