Longe da capital, vez por
outra sou abalado por uma notícia triste vinda das bandas de lá. “Foi embora mais um companheiro de
batente”. Com quase todos eles cruzei em algum momento, nas passagens pelo
Diario de Pernambuco, Jornal do Commercio, Folha de Pernambuco, Rádio Clube,
Assembleia Legislativa, Governo do Estado ou TV Manchete.
Do meu tempo da capital já
fizeram sua viagem definitiva os companheiros Gilberto Carvalho, Edilson Torres, Natan Lucas,
Alécio Nicolak, Paulo Marques, o garanhuense Marcílio Luna (funcionário do Jornal do Commercio até se aposentar) e Lula Farias, este último Secretário de Imprensa
de Pernambuco no Governo Carlos Wilson.
Esta semana, com atraso,
chega a informação da morte de Nivaldo, que trabalhou muitos anos como
diagramador no velho Diario (o jornal, mais antigo da América Latina, conserva
a grafia de antes, sem o acento) e de Gildson Oliveira (foto), editor regional do DP
durante décadas.
O ano passado ele me mandou
um artigo sobre Ivo Amaral para publicar no Correio Sete Colinas e conversamos
por mais de uma vez por telefone. Agora, ele está no céu, junto com os demais,
e espero que lá tenha uma redação, para a gente continuar respirando lead, furo
e notícia.
Transcrevo abaixo o texto
do jornalista Magno Martins em homenagem a Gildson Oliveira. Confesso que foi
difícil conter a emoção.
ESCLARECIMENTO - Para quem não é acostumado ao jargão jornalístico ou das redações esclarecemos o significado de algumas palavras usadas no texto. Profissional do batente é aquele que efetivamente exerce sua profissão, que vive nas ruas ou na redação atrás da notícia. Furo é a notícia importante dada em primeira mão. Lead é o primeiro parágrafo do texto jornalístico, trazendo as informações mais importantes.
Lá se foi meu mestre!
Na semana passada, em meio à expedição aos santuários eleitorais do
Bolsa Família no Nordeste, soube, lamentavelmente, da morte do jornalista
Gildson Oliveira. Extremamente ocupado, fiquei devendo esta homenagem ao meu
primeiro chefe, no início dos anos 80.
Matuto, vindo de Afogados da Ingazeira, cheguei até Gildson pelas mãos
de Meuse Nogueira, que atuava em Economia e que conheci casualmente. A Meuse,
perguntei o que era preciso para ser correspondente do Diário de Pernambuco em
minha terra natal e ele me sugeriu procurar Gildson.
Na época, já premiado nacionalmente pelas grandes reportagens sobre
temáticas nordestinas, como a seca, Gildson editava a página Regional do DP,
espaço destinado ao noticiário do Interior. Potiguar de Natal, o velho
companheiro aceitou de imediato as minhas colaborações sem vínculo
empregatício.
Foi muito sincero. “Aqui, você não vai ganhar nada, mas o DP será a tua
universidade”, advertiu. E foi mesmo! Conheci de imediato o companheiro Machado
Freire, correspondente do jornal no Sertão. Diferentemente de mim, que estava
chegando como colaborador, Freire era funcionário e cobria o Sertão entre
Salgueiro e Petrolina.
Fiquei concentrado, inicialmente, em Afogados da Ingazeira, trabalho
depois ampliando para o Pajeú, região com 17 municípios. “Nos primeiros textos
enviados para Gildson, quase desisto. Ele era extremamente criterioso,
profissional de texto impecável.
Mas teve paciência de Jó comigo. Lembro perfeitamente de uma das suas
lições para o lead, abertura da matéria. “Imagine você desfiando um boi:
tira-se primeiro o couro para se chegar as partes mais saborosas. Depois, vá
desfiando parte a parte, cuidadosamente, pacientemente. Assim, se faz um
texto”.
Gildson me ensinou tudo, inclusive o que não aprenderia na faculdade.
Foi, também, através dele, que tive a oportunidade de fazer a primeira grande
jornada pela região da seca, um grande aprendizado. Nunca mais esqueci o grande
aprendizado da longa viagem.
Vi, mais tarde, meu mestre ganhar o Esso com a série de reportagens
sobre Luiz Gonzaga, que acabou na produção de um belíssimo livro. Além de
professor, Gildson foi conselheiro.
Quando estava em dúvida entre aceitar convite do jornal O Globo para
correspondente em Fortaleza e aventurar no mercado de Brasília, já formado pela
Unicap, com o canudo nas mãos, ele não pensou duas vezes: “Vá embora para
Brasília”, aconselhou.
Gildson Oliveira era um jornalista completo: via notícia onde poucos
enxergavam. Perfeccionista, escrevia romanceado, texto saboroso. Era um poeta,
culto e arejado. Encarava a profissão como um verdadeiro sacerdócio. Sua grande
obsessão era sair na frente, furar a concorrência. Dizia que a notícia estava
nas ruas e não nas redações refrigeradas.
Por isso, foi um andarilho premiadíssimo, um jornalista que exercia o ofício
como se tivesse um fio, ligando as pessoas ao mundo. O jornalismo de Gildson,
do qual tirei meu alicerce, esclarecia, não escurecia. Seu trabalho era
iluminar as tocas onde se escondem os hipócritas e os mentirosos. Fará muita
falta! (Magno Martins).
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