Aos 68 anos de idade a cantora
Maria Betânia rejuvenesceu. Pelo menos na voz. O rosto mostra as marcas do
tempo, ela está uma cópia de sua mãe, Dona Canô, que morreu em 2012, com mais
de 100 anos.
Betânia quando começou a carreira e
gravou seus primeiros discos, em meados dos anos 60 e início dos anos 70,
exagerava no uso dos recursos vocais e algumas vezes parecia agressiva, ou que
estava querendo aparecer, mostrar que “era a tal”.
Muita voz. Talvez faltasse
maturidade.
No seu disco deste ano, intitulado
“Meus Quintais”, temos uma cantora em pleno domínio de voz, suave, doce, sem
praticar os arroubos da juventude.
O resultado é um álbum excepcional,
com um repertório de primeira, escolhido pela própria artista. Maria Betânia
reuniu um grande time de compositores, selecionou canções bonitas que dão muita
unidade ao CD e a direção artística e os arranjos são pra lá de caprichados.
“Meus Quintais” abre com Alguma
Voz, de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, uma linda música com letra
inteligente e poética dos autores citados.
Quando eu ouço a voz da fonte
Não sei que canto encerra
Parece o gozo do monte
Dentro do ventre da Terra.
A voz é tão suave e doce que
surpreende. “É Maria Betânia mesmo”? Você pode se perguntar. Parece uma menina,
uma cantora que está começando agora...
E o CD prossegue com mais 12
faixas, sem uma única canção que comprometa o trabalho. O paraibano Chico César
comparece duas vezes, com músicas de temática indígena, dentro do seu estilo já
consagrado e valorizado pelas interpretações impecáveis de Betânia.
O disco inclui modinhas de jeito
antigo, como Casa de Caboclo, de Paulo Dafilim e Roque Ferreira, uma versão
tocante de Lua Bonita, de Zé Martins e Zé do Norte e faixas animadas com a cara da Bahia, caso de Candeeiro Velho, uma gostosa criação de Roque Ferreira
e Paulo César Pinheiro.
Tem ainda Mãe Maria, de Custódio
Mesquita e David Nasser, que a cantora gravou pela primeira vez nos anos 80 e
regrava neste álbum e interpreta de forma comovente fazendo uma homenagem a sua mãe,
que partiu há dois anos.
Mãe Maria de voz doce e sonolenta
Mãe Maria que chorava no meu pranto
Mãe Maria que embalava minhas
lendas
Mãe Maria que sonhava nos meus
sonhos.
Um disco pode ir além de tudo isso,
em matéria de beleza? Pode.
Maria Betânia ainda nos presenteia
com a canção Uma Iara, de Adriana Calcanhoto, complementando a letra com um texto
de Clarice Lispector que ela declama de forma extremamente bela e expressiva.
Não poderia ser melhor.
Betânia
está jovem, está em forma e que Deus lhe dê muitos anos de vida – como deu a
Dona Cano – para que ela continue “embalando nossos sonhos” e mostrando aos que
têm sensibilidade e inteligência o quanto a vida pode ser bela.
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