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Pesquisas Eleitorais

A MORTE COMO FATOR DE MUTAÇÃO

Do jornalista Luís Pellegrini*

Na Grécia Antiga, cuja cultura deu origem a quase tudo que somos ou pretendemos ser em termos de seres pensantes, a morte sempre foi entendida e acatada como sinal de mutação, de mudança de ciclo pessoal, social ou histórico. Percebida – da mesma forma que o nascimento - como fenômeno natural inerente à própria dinâmica da existência, ela nunca foi vista como "fim", mas sim como ponte necessária para se alcançar um recomeço. Portanto, como um "meio". E para os gregos,inventores da filosofia ocidental, os meios sempre foram muito mais importantes do que os fins.

Como bem sabem os homens e mulheres sábios, sejam gregos antigos ou de qualquer outro tempo, não há renascimento sem morte que o anteceda, seja ela real ou simbólica. Uma morte é sempre sinal de que um ciclo novo tem de acontecer, e toca a todos que a testemunham agir para que o ciclo novo aconteça.
Esta reflexão é importante e necessária, no momento em que todos nós, brasileiros, nos defrontamos com a morte brusca e prematura de um jovem político candidato a ocupar o posto supremo da cidadania nacional, a Presidência da República. Eduardo Campos não era apenas um político jovem, inteligente e brilhante como todos a ele se referem agora. Ele representava, a cada dia mais, a possibilidade do surgimento em nosso país de uma nova casta de homens públicos diferenciados, caracterizados não necessariamente pela santidade – pois a política é muito mais arena de gladiadores do que panteão de santos – mas sim por um entusiasmo alegre e quase ingênuo, por um desejo honesto de mudar as coisas, típico dos idealistas que ainda não conhecem bem a espessura das barreiras que tentam impedir o avanço das reformas e das revoluções. Sabemos todos que as grandes utopias têm poucas chances de se realizar. Mas idealistas como Eduardo Campos são absolutamente necessários, sempre, e sobretudo quando uma nação cai no descrédito em relação ao mundo do poder, da política e dos políticos em geral. Alguém, honestamente, poderá negar que isso está acontecendo aqui e agora no Brasil?
O destino matou Eduardo Campos. Alguns comentaristas adjetivam seu súbito desaparecimento de "morte estúpida". Mas basta subir uma oitava na escala do pensamento para se perceber que nenhuma morte é estúpida.Toda morte encerra uma lição, uma mensagem, um significado que deve ser decifrado, se não quisermos – como tantas vezes já fizemos e continuamos a fazer - perder o cavalo sem rabo do ensinamento que a existência quer nos dar.
No caso do Brasil, para se chegar a tal leitura, convém começar pelo recurso à raiz, à própria origem e base da alma nacional: o sincretismo corporal, psíquico, mental e anímico que nos caracteriza. Este sincretismo, queiramos ou não, gostemos ou não, é europeu-africano-indígena. Nele pontifica o orixá Olodumarê, o senhor supremo do destino. Ao lado dele, atuando como seu fiel servidor, está o orixá Exu, seu mensageiro, o encarregado da execução na Terra, e entre os homens, dos desígnios de Olodumarê.
Exu, que a santa ignorância dos missionários cristãos identificou com o diabo, nada mais é do que o braço regulador do destino. O princípio de poder que é ativado toda vez que a ordem natural das coisas é subvertida e quebrada, e que age – isento de qualquer consideração compassiva - para que essa ordem seja restabelecida.
O que provoca a ruptura da ordem natural das coisas? Em primeiro lugar a arrogância, a vaidade, o descomedimento, a perda da consciência de limites. Todos eles fatores perversos que o pensamento grego abrigava sob um mesmo denominativo: a hybris.
Não apenas a política brasileira, mas o mundo como um todo, vive hoje sob a égide da hybris. Não é por acaso falta de consciência de limites o que estamos fazendo ao dilapidar e poluir nossa própria casa, o planeta Terra? Não é descomedido o modelo de civilização que criamos,inteiramente assentado na escravidão da produtividade e do consumismo insustentáveis? Não será, por acaso, forrado de arrogância o mercado persa em que se tornou nosso mundo político, verdadeiro ringue de MMA vale tudo para o embate de todos os tipos de fisiologismos, de acordos e de alianças espúrias e pouco recomendáveis, praticados por legiões de políticos transformados em peagadês da Lei de Gérson?
Faz parte da ordem natural das coisas, no entanto, o fato de que carreira política é quase sinônimo de sacerdócio. Na sua etimologia original, política significa: "Arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados". Será possível conceber-se a prática dessa arte ou ciência de modo dissociado do conceito de SacrumOfficium, ofício sagrado, significando a submissão dos desejos do ego pessoal às necessidades do bem comum?
Quando, no mundo, uma função sagrada - seja ela a do professor, a do médico, a do sacerdote, a do homem público – é vilipendiada e descaracterizada, isso configura ruptura da ordem natural das coisas. Isso ativa o poder de Exu. O princípio regenerador se manifesta, quase sempre de forma violenta e cega, desfazendo na sua fúria cega coisas, valores e pessoas que num instante estavam íntegras e no instante seguinte viraram pó. É este o momento em que, com frequência, os inocentes pagam pelos pecadores...
É o momento em que o inexorável Olodumarê, ao tirar de nós Eduardo Campos e aquilo que ele representava, talvez esteja querendo nos dizer: "Ambições mundanas, impulsos competitivos, a ânsia de status, poder ou bens materiais, tudo tende a dissipar-se quando visto contra o pano de fundo da morte potencialmente iminente. É como escreveu Carlos Castaneda, ao descrever os ensinamentos do feiticeiro yaki Don Juan: "Uma quantidade imensa de mesquinhez é abandonada quando a tua morte te acena ou a entrevês num breve relance. (...) A morte é a única conselheira sábia que possuímos".
*Luís Pellegrini foi editor da Revista Planeta. Atualmente é responsável pela Revista Oásis. As duas publicações tratam de temas religiosos e esotéricos.

Um comentário:

  1. Depois de se ler um artigo dessa magnitude, nada mais a declarar.Somente lê-lo por mais de uma vez e tirar as nossas próprias conclusões.

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