Dominguinhos
foi um músico excepcional, um ótimo compositor e cantor de muitos recursos
vocais.
Não foi à
toa que Luiz Gonzaga de cara viu talento no menino de Garanhuns.
Ao partir
para a eternidade o artista recebeu justas homenagens em sua terra natal e em
todo o Brasil.
Muitos, no
entanto, inclusive fãs do cantor e discípulos que se dedicam ao forró pé de
serra, veem em Domingos apenas o sanfoneiro e o intérprete do legítimo forró.
Esquecem
“De Volta pra o Aconchego”, bela canção composta em parceria com Nando Cordel e
“Amizade Sincera”, esta uma pequena (ou seria melhor escrever grande?)
obra-prima feita com Renato Teixeira, o autêntico representante da música
sertaneja de São Paulo e do Brasil.
Por certo
tem outras canções belas com participação de Dominguinhos que merecem ser
citadas e que ecoaram pelos brasis na sua voz, ou de Elba, Fagner, Nando
Cordel, Maciel Melo e tantos intérpretes respeitáveis dos ritmos nordestinos.
Aqui se
escreve sobre músicas não caracterizadas como forró, sem querer minimizar a
importância do gênero, que nos presenteou com canções belíssimas em versões do
próprio Dominguinhos, Luiz Gonzaga, Fagner, Marinês, Elba, Flávio José, Gláucio
Costa, Maciel Melo e outros cantores representativos da nossa cultura.
É preciso documentar
que José Domingos de Moraes gravou, em 2012, em parceria com o poeta-compositor
Xico Bezerra, natural do Crato (CE), um CD dos mais importantes de sua
carreira. Porque nesse disco o artista mostra toda sua versatilidade e os
toques de gênio da música popular brasileira.
O álbum em
questão, gravado em estúdio do Recife – com exceção de três faixas – traz 12
músicas e supera os ritmos regionais para se tornar um trabalho decididamente
universal. Xico e Dominguinhos incluíram apenas um forró e dois xotes no CD,
completando o disco com uma variedade de ritmos e ou gêneros surpreendentes
como sambas canção, samba, toada sertaneja, um fado e até um chorinho, tipo de
música consagrada sobretudo por Pixinguinha, Ademilde Fonseca e Altamiro
Carrilho.
Os
cuidados com o álbum começam pela capa de muito bom gosto, toda num azul
discreto com uma lua significativa se destacando no canto esquerdo. “Luar
Agreste no Céu do Cariri”, é o título do disco, assinado por Dominguinhos &
Xico Bezerra.
O CD abre
com Dominguinhos cantando um expressivo forró, dividindo esta faixa com
Waldonys. Depois vem Elba Ramalho, surpreendente, interpretando uma composição
inspirada e capaz de provar que sanfona também combina com o choro. Temos
Guadalupe, Maria da Paz, Maciel Melo e André Rio, este último entoando um
bonito fado nascido da inspiração dos compositores do Ceará e de Pernambuco.
Nada é
dispensável no trabalho. Podemos sim destacar algumas músicas, principalmente a
última, “Lua Brasil”, a única composta por Xico Bezerra sozinho, mas que
recebeu uma interpretação primorosa de Dominguinhos.
“Lua Brasil”,
como reconhece no final o artista nascido em Garanhuns, é uma homenagem justa a
Luiz Gonzaga. É de arrancar lágrimas dos que têm sentimento e amam tanto o
eterno Lua quanto a boa música do
Nordeste.
“na serra,
da terra ouviu-se um cantar, astro-mór
um raio,
um brilho, uma luz, fez-se um canto maior
ecoou mundo
afora a partir desse sol do exu
e cantou,
asa branca, acauã, transbordou pajeú
solo araripe,
alma será, sons do brasil...” (sic)
Dominguinhos
nesta música comprova que era um grande cantor. E, neste disco, feito um ano
antes de se encantar, deixa suas digitais de artista genial, que preservou o
forró, o baião, o xote, mas foi além dos ritmos nordestinos, abrindo a sua arte
também para o chorinho de jeito carioca, o samba de rosto brasileiro e o fado de
alma portuguesa.
O disco é
imperdível e merece ser conhecido por todos os admiradores de Dominguinhos.
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