O Brasil perdeu ontem e hoje dois dos seus mais brilhantes escritores
e a literatura do país está de luto.
João Ubaldo Ribeiro, 73, baiano, autor de obras conhecidas como
Sargento Getúlio e Viva o Povo Brasileiro morreu na madrugada da sexta-feira, de
embolia pulmonar.
Escritor de estilo apurado teve romances adaptados para o
cinema e recebeu prêmios nacionais e internacionais pelos seus livros.
Era membro da Academia Brasileira de Letras e sua morte foi
lamentada pelos colegas escritores e por políticos como seu conterrâneo Jacques
Wagner, governador da Bahia.
Outro grande escritor do país, Rubens Alves, 80, morreu neste
sábado pela manhã, com o agravamento das funções renais, pulmonares e circulatórias.
Natural de Boa Esperança, em Minas Gerais, o escritor tinha
formação em teologia, filosofia, era educador e psicanalista. Publicou mais de 150
livros, entre crônicas, literatura infanto-juvenil, filosofia, teologia e religião.
Entre suas obras se destacam O Enigma da Religião, O Quarto
do Mistério, A Alegria de Ensinar, A Volta do Pássaro Encantado e Gandhi: A Magia
dos Gestos Petiços.
TEXTOS – O último texto de João Ubaldo Ribeiro, escrito
para ser publicado no jornal O Globo, neste domingo, foi antecipado para hoje. Nele o escritor
aborda a Lei da Palmada, aprovada há pouco tempo no Congresso Nacional.
Ainda é
cedo para avaliar a chamada lei da palmada, mas tenho certeza de que,
protegendo as nossas crianças, ela se tornará um exemplo para o mundo. Pelo que
eu sei, se o pai der umas palmadas no filho, pode ser denunciado à polícia e
até preso. Mas, antes disso, é intimado a fazer uma consulta ou tratamento
psicológico. Se, ainda assim, persistir em seu comportamento delituoso, não só
vai preso mesmo, como a criança é entregue aos cuidados de uma instituição que
cuidará dela exemplarmente, livre de um pai cruel e de uma mãe cúmplice. Pai na
cadeia e mãe proibida de vê-la, educada por profissionais especializados e
dedicados, a criança crescerá para tornar-se um cidadão modelo. E a lei
certamente se aperfeiçoará com a prática, tornando-se mais abrangente. Para
citar uma circunstância em que o aperfeiçoamento é indispensável, lembremos que
a tortura física, seja lá em que hedionda forma — chinelada, cascudo, beliscão,
puxão de orelha, quiçá um piparote —, muitas vezes não é tão séria quanto a
tortura psicológica. Que terríveis sensações não terá a criança, ao ver o pai
de cara amarrada ou irritado? E os pais discutindo e até brigando? O egoísmo
dos pais, prejudicando a criança dessa maneira desumana, tem que ser coibido,
nada de aborrecimentos ou brigas em casa, a criança não tem nada a ver com os
problemas dos adultos, polícia neles.
De Rubens Alves escolhemos um texto já antigo,
uma pérola, embora o autor tenha abordado um assunto amargo: “... A Morte e o Morrer”.
Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é
uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: “Morrer, que me importa? (…)
O diabo é deixar de viver.” A vida é tão boa! Não quero ir embora…
Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos.
Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: “Papai, quando você morrer,
você vai sentir saudades?”. Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio
em meu socorro: “Não chore, que eu vou te abraçar…” Ela, menina de três anos,
sabia que a morte é onde mora a saudade.
Cecília Meireles sentia algo parecido: “E eu fico a
imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega… O que será,
talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas
companhias… Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que
pena a vida ser só isto…”
Da. Clara era uma velhinha de 95 anos, lá em Minas. Vivia
uma religiosidade mansa, sem culpas ou medos. Na cama, cega, a filha lhe lia a
Bíblia. De repente, ela fez um gesto, interrompendo a leitura. O que ela tinha
a dizer era infinitamente mais importante. “Minha filha, sei que minha hora
está chegando… Mas, que pena! A vida é tão boa…”
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