O Brasil inteiro está homenageando Ariano Suassuna. Ele, que
foi reconhecido em vida, integrando a Academia de Letras de Pernambuco, a Academia
Brasileira de Letras, sendo tema de desfile de escolas de samba no Rio e em São
Paulo, tendo muitas de suas obras adaptadas para o cinema e televisão, está neste
momento sendo tão reverenciado como foi Jorge Amado, Érico Veríssimo, Luiz Gonzaga,
Dominguinhos e outros ícones da literatura e da música brasileira.
O ator Matheus Nachtergaele, que viveu o João Grilo no “Auto
da Compadecida”, filme dirigido por Guel Arraes, escreveu uma carta que está fazendo
sucesso nas redes sociais.
No Palácio das Princesas, neste momento, é grande o movimento
de pessoas que comparece ao velório para se despedir de Ariano. Muita gente veste
a camisa do Sport. Inclusive as netas do escritor ostentam o vermelho e preto
do Leão da Ilha.
Ariano Suassuna será sepultado no cemitério Morada da Paz, em
Paulista e no caixão três bandeiras foram colocadas: a do Brasil, a de Pernambuco
e a do Sport.
Alceu Valença, cantor e compositor de São Bento do Una, também
confessou hoje ser um admirador e discípulo do autor do Pedra do Reino. Eis o texto
do artista postado em seu Facebook:
"Comecei a me
interessar por literatura na adolescência. Meus mentores foram meus tios Lívio, que me apresentou
Fernando Pessoa, e Geraldo, que me falou pela primeira vez de Ariano Suassuna.
Quando ingressei na faculdade, passei a frequentar o Teatro Popular do
Nordeste, do qual ele foi um dos fundadores ao lado de Leda Alves e Hermilo
Borba Filho. Assisti às gargalhadas O santo e a porca, entre outras peças do
autor paraibano. Ali descobri que o regional podia ser universal. Do figurino à
interpretação dos atores, tudo representava o sertão profundo num contexto
abrangente e contemporâneo. Seus tipos, suas histórias, seus cantadores
remetiam a Taperoá dele e a minha São Bento do Una, ambas povoadas por
aboiadores, cordelistas, violeiros, loucos sonhadores e contadores de
histórias. Era o surrealismo ibérico, brasileiro e nordestino in natura.
Posteriormente,
Ariano criou o Movimento Armorial, que parte das mesmas premissas - o regional
como universal, e que reivindicava o direito de vilas, cidades e aldeias se
expressarem sem a obrigatoriedade de ser hollywoodiano ou anglófono. Como ele
mesmo gostava de dizer, não troco meu oxente pelo OK de ninguém. Ariano jamais
sofreu do complexo de cachorro vira-latas que parte da nossa intelectualidade
comunga. Anos depois, homenageei um de seus personagens mais queridos, João
Grilo, o anti-herói de O auto da Compadecida, em minha música Que grilo dá: 'Me
chamam cobra cascavel / Sou João Grilo, menino traquino que grilo que dá /
Cancão de Fogo, Viramundo, Malasarte / Sou o riso e o desastre do meu Brasil
popular'.
Três dias antes de
ele ser hospitalizado, pesquisando na internet, o acaso me levou a encontrar o
link com um trecho de uma aula-espetáculo ministrada por ele e o compartilhei
no Facebook. A repercussão foi incrível. Comentários e mais comentários em
saudação reverente ao mestre. Meu filho Rafael, de 13 anos, e seu colega de
escola, Alexandre Carneiro, ficaram encantados e, assim como eu, se tornaram
seus fãs. Sua obra não tem idade e segue na embolada do tempo: 'o tempo em si,
não tem fim não tem começo, mesmo virado ao avesso não se pode mensurar'.
Ariano é eterno em sua irreverência, profundidade, sabedoria e universalidade."
A assessoria de imprensa do Palácio do Planalto informou agora há pouco
que a presidente Dilma Roussef virá para o Recife. Ela desembarca no começo da tarde,
na capital pernambucana, comparece ao velório e acompanha a saída do corpo de
Ariano para o cemitério de Paulista.
(Foto de Ariano: Jornal do Commercio; Foto de Alceu Valença: Facebook do cantor).
(Foto de Ariano: Jornal do Commercio; Foto de Alceu Valença: Facebook do cantor).
Quatro frases de Ariano Suassuna:
O otimista é um tolo. O
pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso.
A massificação procura baixar
a qualidade artística para a
altura do gosto médio. Em arte, o gosto médio é mais prejudicial do que o mau
gosto... Nunca vi um gênio com gosto médio.
Arte pra mim não é produto de
mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa.
Eu digo sempre que das três
virtudes teologais chamadas, eu sou fraco na fé e fraco na qualidade, só me
resta a esperança. Eu sou o homem da esperança.
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