Duas revistas, duas visões diferentes do
mesmo assunto. A Revista Carta Capital noticiou a emenda à Constituição que amplia os
direitos das empregadas domésticas como um avanço. Destacou, inclusive, uma
frase que foi manchete em alguns jornais, avaliando a decisão com "a
segunda abolição da escravatura no Brasil".
Segue o texto da Carta Capital:
Representantes
dos trabalhadores domésticos comemoraram, esta semana a aprovação da Proposta
de Emenda à Constituição que amplia os direitos da categoria, como o pagamento
de hora extra e direito a acesso ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.
“Quando olhei ali para o painel, e vi que foi aprovada por 66 votos, me deu um
alívio muito grande. É um sentimento de vitória, mais uma batalha vencida”,
disse a presidente da Federação Nacional das Empregadas Domésticas, Creuza
Maria de Oliveira ao jornal O Estado de S.Paulo.
Segundo ela, o
temor de desemprego deve agora ser atenuado. ”Quando conquistamos direitos na
Constituição de 88, todo mundo dizia que haveria desemprego. Mas o número de
empregadas só cresceu. Há esse terrorismo no início, depois a poeira vai
baixar.”
Para a presidente
do Sindoméstica (Sindicato das Empregadas e Trabalhadores Domésticos) da Grande
São Paulo, Eliana Menezes, a aprovação da PEC representa a “segunda abolição da
escravatura” no Brasil.
A declaração foi
feita à Folha de S.Paulo. Segundo ela, a proposta trará mais liberdade e
dignidade aos trabalhadores domésticos. “Temos empregadas domésticas que
trabalham 18 horas por dia. Elas ficam submetidas às regras dos patrões dentro
das casas deles.”
Para o advogado
trabalhista Renato Rua de Almeida, a medida pode contribuir para o aumento da
informalidade. Contratar um empregado doméstico, segundo ele, ficou mais caro.
”As pessoas (de classe média e média baixa) vão começar a contratar diaristas
duas vezes por semana para não criar vínculo trabalhista, porque a partir de
três já se cria esse vínculo”, explicou ao Estado de S. Paulo. Além disso, a
aprovação da PEC obrigará os municípios a investir em creches e outros apoios
para estes trabalhadores, que em maioria são mulheres.
DESEMPREGO - Numa
outra linha, a Revista Veja publicou reportagem com destaque na chamada de
capa, dando a entender que as conquistas das domésticas vão gerar desemprego e
deixar em maus lençois a classe média.
"Veja, com a capa da presente edição nas
bancas, chega a um de seus mergulhos ideológicos mais baixos. Um superação em
termos de preconceito, cinismo e terrorismo social. Em oito paginetas, como se
diz entre os jornalistas para designar folhas de papel editadas, a revista
crava de saída que os serviços dom ésticos ficarão mais caros. As tarefas do
lar terão de ser feitas, em razão do buraco nas contas familiares que a nova
legislação indica, pelos donos da casa. Fica subententido que isto seria um
retrocesso no modo de vida do brasileiro, uma derrota pessoal e familiar",
critica o portal Brasil 247, ao comentar a reportagem da revista.