É difícil saber em quem acreditar nessa história envolvendo a Revista Veja, o ex-presidente Lula, o ministro do STF Gilmar Mendes e o ex-ministro dos governos FHC/Dilma, Nélson Jobim. Cada um diz uma coisa e o mais provável é que todos estejam mentindo, com um pouco de verdade no meio. Uns mais outros menos.
Tive oportunidade de ler a Veja anterior a que está nas bancas, quando veio à tona mais esse “escândalo” e, como jornalista, não foi difícil perceber que a revista já preparava o terreno para detonar o ex-presidente.
Lula não tem mais o poder, se recupera de um câncer e está envelhecido. Mesmo assim, parte da Grande Imprensa, com a Veja na linha de frente, claramente trata de desconstruir sua imagem, de acabar com ele, pois teme sua volta em 2014. Preferem a guerrilheira Dilma, mesmo sendo mulher. Pelo menos nasceu em Minas e se criou no Rio Grande do Sul, além de ter curso superior e nunca ter precisado fugir da miséria num pau de arara.
A Veja é suja, está envolvida com Cachoeira e outros bandidos e usa as suas armas de sempre para escapar da CPI e se colocar acima dos políticos, principalmente dos “marginais do PT”.
Sou jornalista, mas acho que a revista merece tanta credibilidade quanto certos políticos. Maluf, Collor, Roberto Jefferson, José Serra, Garotinho. Se quiser pode colocar o Lula nessa relação também.
O Gilmar Mendes, para quem acompanha as notícias, quem lê, não engana ninguém. É ministro do Supremo, porém tem tido um comportamento altamente comprometedor, como comprovam diversas reportagens publicadas e mesmo suas entrevistas na televisão.
Jobim é muito mais tucano do que petista. Está muito mais próximo de FHC do que de Lula ou Dilma. Não tinha porque defender os petistas.
Na verdade temos outra vez uma briga ideológica envolvendo Lula, Mensalão, CPI do Cachoeira, Demóstenes Torres, Revista Veja e muita coisa mais.
Coisa de políticos e de jornalistas. O povão tá se lixando pra isso. Está satisfeito porque a renda aumentou, pode comer e vestir melhor, viajar de avião, colocar o filho em escola particular. Aprova Dilma, como aprovou Lula, porque a vida melhorou, não interessa essa discussão ética ou filosófica que na verdade é hipócrita. Estão todos defendendo seus interesses.
Voltamos ao começo: difícil saber quem está dizendo a verdade ou mentindo, nessa história. Como não tenho bola de cristal nem poderes telepáticos, muito menos sou dono da verdade, transcrevo alguns artigos publicados esta semana. Cada opinião é diferente, de acordo com a ideologia ou o lado do autor. Você que lê o blog que tire suas conclusões.
MOVIDO À SOBERBA E IRA, LULA PERDE O FARO POLÍTICO
Sete anos se passaram desde que o “mensalão” foi introduzido no léxico da política nacional. E Lula ainda não conseguiu digeri-lo. Com o vocábulo atravessado na traqueia, o ex-presidente enxergou no Cachoeiragate uma oportunidade para regurgitá-lo. Idealizou uma CPI e passou a transitar entre dois dos sete vícios capitais: a soberba e a ira.
Com a alma em desalinho e o organismo sob efeitos de medicamentos, Lula perdeu momentaneamente sua principal habilidade: o faro político. Às vésperas do julgamento do escândalo, passou a atirar a esmo. No encontro com o ministro Gilmar Mendes, um de seus alvos, cometeu o erro supremo. Deu um tiro no pé.
Por formalidade regimental, o requerimento de convocação da CPI elegeu como objeto de investigação a ação da quadrilha de Carlinhos Cachoeira junto a agentes públicos e privados. Para Lula, o bicheiro é mera escada. Escalando-o, pretende chegar à jugular dos que, segundo crê, conspiraram contra sua presidência.
No papel, a CPI é do Cachoeira. Na cabeça de Lula, o nome da comissão é outro: CPI da Vingança. Numa fase em que o raciocínio brota-lhe do fígado, Lula vislumbrou na iniciativa um palco multiuso. Num mesmo patíbulo, faria sangrar o ex-algoz Demóstenes Torres, a revista Veja e o governador tucano Marconi Perillo.
Do sangue dos antagonistas, Lula pretendeu extrair o sumo que engrossaria seu objetivo primordial: a desmontagem do que chama de “farsa do mensalão.” Nesse contexto, dois personagens foram à alça de mira como alvos convenientes: o procurador-geral da República Roberto Gurgel e o ministro Gilmar Mendes. Um prepara-se para exercer o papel de acusador dos mensaleiros. Outro, de julgador.
Lula encontrou-se com Gilmar em 26 de abril. Dias antes, em conversas com amigos petistas, destilava os rancores que nutre pelo personagem. Em notícia veiculada aqui, em 27 de abril, informou-se sobre os pensamentos que embalavam a mente de Lula nos dias que antecederam a conversa no escritório do ex-ministro Nelson Jobim.
Nesse período, Lula cobrava do petismo que avançasse sobre a Veja. Dizia estar convencido de que a revista associara-se ao aparato de espionagem de Carlinhos Cachoeira para produzir reportagens contra o governo dele. E recordava uma passagem protagonizada por Gilmar Mendes.
Citava o célebre grampo que captara conversa de Gilmar com o senador Demóstenes Torres.
Atribuída à Abin, a escuta clandestina levara Lula a afastar da direção da agência de inteligência o delegado federal Paulo Lacerda. Ironicamente, a cabeça de Lacerda descera à bandeja após reunião intermediada por Nelson Jobim.
Então ministro da Defesa, Jobim, amigo de Gilmar desde os tempos do governo FHC, levara-o ao Planalto.
Recebido no gabinete presidencial, Gilmar referira-se à bisbilhotagem de seu telefonema com Demóstenes como evidência de que o aparato de segurança do governo fugira ao controle. Caminhava-se, segundo ele, para “um Estado policial”.
Pois bem. O Lula dos dias anteriores à nova reunião intermediada por Jobim recordava: embora Demóstenes e Gilmar tivessem confirmado o conteúdo do diálogo, o áudio do grampo jamais apareceu. Algo que o levou a difundir a suspeita de que a escuta fora parte de uma trama da “turma do Cachoeira”.
Inconformava-se com o fato de ter sacrificado Lacerda.
Foi contra esse pano de fundo envenenado que Lula pediu a Jobim que agendasse o encontro do mês passado. Revelado o teor da conversa, Jobim tentou vender a reunião como coisa fortuita.
Nessa versão, Lula fora ao escritório para matar as saudades do seu ex-ministro e, por uma dessas coincidências da vida, Gilmar encontrava-se no recinto. Uma lorota que, por falta de nexo, Jobim absteve-se de reiterar.
O ministro alega que só veiculou o que se passou entre as quatro paredes do escritório de Jobim porque chegou-lhe aos ouvidos a informação de que Lula continuou a tratá-lo como matéria prima de CPI. Quer dizer: deu de ombros para o pedaço do diálogo em que Gilmar lhe disse que suas relações com Demóstenes não ultrapassaram o rubicão da ética.
Abespinhado, o ministro levou os lábios ao trombone.
Gilmar não ficou bem posto no enredo. Às portas do julgamento do mensalão, a reunião com um personagem que chama o escândalo de “farsa” pareceu, no mínimo, inadequada. No máximo, um despautério.
Lula saiu do episódio em posição ainda mais constrangedora. Ficou entendido que, para embaralhar o julgamento do Supremo, está disposto até a deslustrar sua biografia. (Josias de Sousa, jornalista do Sudeste).
POR QUE LULA ERRA TANTO?
O último grande acerto político do ex-presidente Lula foi a eleição de Dilma Rousseff para presidente da República. A um ano do término do seu mandato, ele farejou que o Brasil estava maduro para eleger uma mulher e pinçou como candidata uma ex-vítima do regime militar, que passara três anos numa penitenciária do Rio de Janeiro por sua militância política de esquerda.
Dilma derrotou Serra no 2º turno, com 56% dos votos válidos. E isso fez Lula imaginar-se como um “semideus”.
A partir daí, porém, o ex-presidente começou a errar. Ele tirou Marta Suplicy da disputa eleitoral pela prefeitura de São Paulo, mesmo ela estando em 1º em todas as pesquisas, para colocar Fernando Haddad, que ainda pode crescer no curso da campanha, evidentemente. Mas permanece atrás de Serra, Celso Russomano, Netinho de Paula, Gabriel Chalita e Soninha Francine. Além disso, Haddad é daquele tipo de político que gostaria de ser prefeito mas não gostaria de ser candidato.
No entanto, o maior de todos os seus erros foi o que foi citado pela Veja neste final de semana: o encontro com o ministro Gilmar Mendes a fim de apresentar-lhe uma proposta não republicana: você vota no STF pelo adiamento do julgamento do “mensalão” e eu salvo a sua pele na CPI do Cachoeira.
Isso demonstra o seu primarismo sobre a importância das instituições num regime democrático e se estivesse no poder, como disse o ministro Celso de Mello, seria caso de “impeachment”. (Inaldo Sampaio, jornalista pernambucano).
LULA ERROU, E ERROU FEIO, MAS NÃO PRATICOU NENHUM CRIME
Sobre o encontro de Lula com o ministro Gilmar Mendes (STF) para tratar do processo do “mensalão”, que a revista “Veja” tratou como escândalo, o ex-deputado Maurílio Ferreira Lima (PMDB-PE) fez hoje, no Recife, as seguintes considerações:
1- “Se um analista político da província, como Inaldo Sampaio, tivesse, em nível nacional, o espaço de Ricardo Noblat, Merval Pereira, Ilimar Franco. Gérson Camarotti ou Lúcia Hipólito, teria, como se diz na linguagem popular, dado um banho com sua análise de hoje, na Folha de Pernambuco, sobre a crise, apenas existente na imprensa e desconhecida por mais de 99% da população.
2- Essa suposta crise se originou de uma conversa entre Lula eo ministro do STF Gilmar Mendes, com quatro versões diferentes .
3- Inaldo iniciou a sua análise perguntando: por que Lula erra tanto? E historia todos os erros políticos dele, desde o veto a Marta Suplicy à invenção malograda de Fernando Haddad como candidato a prefeito de São Paulo e, finalmente, esse encontro Gilmar Mendes.
4- Nesse episódio Lula errou, e errou feio, mas não praticou nenhum crime. Na própria versão de Gilmar Mendes, Lula disse com todas as letras que achava inconveniente o julgamento do mensalão neste ano eleitoral e sugeriu o seu adiamento.
5- Em momento nenhum ele pediu ao ministro para absolver os envolvidos .
6 – Dentro do erro desse encontro, Lula cometeu outro erro maior: acreditou na versão de um aloprado do PT que dizia constar da CPI uma história escabrosa de uma viagem de Gilmar Mendes a Berlim com o senador Demóstenes Torres.
7- E ficou surpreso quando o ministro respondeu que tem uma filha estudando em Berlim e vai muitas vezes visitá-la, pagando as despesas com seu cartão de crédito pessoal.
8- E que encontrou Demóstenes Torres em Praga no momento em que o Brasil inteiro pensava que o senador era um paladino da moralidade.
9- Foi aí que Lula se deu conta de que tinha entrado numa fria .
10- Apesar de o competente senador Aloisio Nunes Ferreira (PSDB-SP) ter encontrado um artigono Código Penal classificando como crime a obstrução da justiça, nenhum procurador geral, mesmo a serviço da revista Veja, poderia acusar Lula de obstruir a justiça.
11- Lula não tem acesso às provas nem ao processo do mensalão, apenas sugeriu que o julgamento fosse adiado para não contaminar as eleições.
12- Se Lula praticou um crie contra o STF, o paraplégico Pedro Sales praticou uma obstrução maior, pois foi ao plenário do STF manifestar-se a favor das células- tronco.
13- O mesmo crime teria praticado as religiosas que foram manifestar-se dentro e fora do STF contra o aborto de fetos sem cérebros.
14- E o que dizer dos que assinaram e manifestaram-se junto aos ministros do STF a favor do projeto de lei da ficha limpa? É crime uma pessoa manifestar a um ministro do STF a sua opinião?
15- Crime não houve, mas houve da parte do ex-presidente uma tremenda baboseira .
16- Esse comportamento de colecionar erros e besteiras é incompatível com quem exerce uma liderança nacional” . (Maurílio Ferreira Lima, ex-deputado federal pernambucano).
GILMAR E VEJA - A PAUTA DO DESESPERO
Lula, Nelson Jobim e Gilmar Mendes se encontraram no escritório do segundo no dia 26 de abril. Dos três, um deles, Gilmar Mendes, narra um diálogo em um ambiente (a cozinha do escritório) que os outros dois negam.
Jobim o faz enfaticamente: não houve conversa na cozinha e não ocorreu o tal diálogo, declarou o ex-ministro da Justiça FHC e ex-presidente do STF entre 2004 e 2006; portanto, alguém insuspeito de simpatias petistas.
Um dado temporal pouco ou nada contemplado na repercussão midiática do evento: a "revelação" do falso diálogo só vem a público um mês depois do ocorrido; coincidentemente, quando a CPI do Cachoeira avança - aos trancos e barrancos, é certo -, no acesso e divulgação das escutas telefônicas da PF que ampliam os círculos envolvidos no intercurso entre ganguesterismo, mídia e expoentes conservadores do país.
A revista VEJA que narrou o falso diálogo um mês depois de ocorrido estranhamente não ouviu Jobim antes de publicar a matéria. Uma testemunha importante, a única, Jobim não foi ouvido ou não quis se comprometer com a operação? A revista também não explica a razão pela qual Gilmar Mendes só se indignou a ponto de revelar o explosivo diálogo - que tanto o escandalizou, como faz crer em declarações -- 30 dias depois do ocorrido.
O dispositivo midiático demotucano passa ao largo dessas miunças. Prefere repercutir o "escandaloso" comportamento de Lula. Usa a condicional "se de fato ocorreu" no miolo do texto, mas ordena as manchetes e comentários seletos como se a reportagem de VEJA fosse verdadeira.
Repete assim o comportamento da manada conservadora observado em 2008 quando a mesma VEJA e o mesmo Gilmar Mendes, denunciaram um suposto grampo telefônico de conversas travadas entre o então presidente do STF e o demo Demóstenes Torres.
O "escândalo" levou Gilmar a acusar o governo Lula de instaurar um "estado policial no Brasil". Mostrou-se igualmente indignado então. O dispositivo midiático demotucano endossou o destampatório sem um grama de evidência objetiva. A pressão derrubou Paulo Lacerda, então chefe da ABIN.
O grampo, comprovou-se depois, era falso. Uma peça desse jogo xadrez vai depor no Conselho de Ética nesta terça-feira: Demóstenes Torres é parte da verdade escondida no cipoal de mentiras, interesses políticos e pecuniários que a novilíngua midiática tenta minimizar; se possível vitimizar. Parte da mesma verdade é a viagem a Berlim em abril deste ano, feita por ambos: o senador e o personagem togado. As particularidades que envolvem a ida e a volta dos dois sobretudo a volta em 25.4, podem explicar o suor frio do desespero excretado nas páginas da corneta do conservadorismo golpista brasileiro. (Saul Leblon, jornalista do Sudeste).
O INVEROSSÍMIL GILMAR
Na primeira vez que a triangulação Veja-Demóstenes Torres-Gilmar Mendes funcionou, coube ao então presidente do Supremo Tribunal Federal o papel mais absurdo. Veja divulgou um suposto grampo de ministros do STF e reproduziu uma irrelevante conversa entre Mendes e Torres como prova. Algo que poderia ter sido gravado por qualquer um dos dois ou simplesmente relatado ao repórter. O áudio da conversa nunca apareceu.
Por causa do suposto grampo, o ministro chamou o então presidente Lula “às falas”.
O episódio resultou na demissão do delegado Paulo Lacerda da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e no posterior enterro da Operação Satiagraha, para a glória do banqueiro Daniel Dantas.
A Polícia Federal investigou a denúncia, fez uma varredura e não localizou nenhum grampo. Diante do fato, Mendes saiu-se com esta: “se a história não era verdadeira, era ao menos verossímil”. Romances e filmes de ficção costumam ser verossímeis. Mas até ai… Ficou tudo por isso mesmo.
Agora o ministro do Supremo reedita uma dobradinha com a Veja (desta vez não foi possível contar com os serviços do senador Torres, por motivos de força maior, como sabemos). Mendes acusa uma suposta pressão do presidente Lula para abafar o julgamento do mensalão. Dois participantes da reunião desmentem: o próprio Lula e o ex-ministro Nelson Jobim. São dois contra um.
E o que acontece? Na entrevista ao Jornal Nacional exibida na segunda-feira 28, Mendes requebra no palavreado. Diz ter “inferido” que Lula queria pressioná-lo a tentar adiar o julgamento do mensalão. Registre-se: o ministro inferiu. (Sérgio Lírio, jornalista do Sudeste).