Se você pesquisar na internet a relação dos melhores filmes
de western, vai encontrar facilmente em listas diferentes os longas Shane (Os
Brutos Também Amam), Rastros de Ódio, No Tempo das Diligências, Três Homens em
Conflito, Os Imperdoáveis e O Homem que Matou o Facínora. Este último, que
talvez seja menos conhecido do que os outros, foi colocado uma vez por um grupo
de críticos respeitáveis no topo das produções de faroeste.
Aliás só vim a assistir esse filmaço de John Ford seis ou
sete anos atrás, quando tinha lido sobre ele e o encontrei numa locadora que
existia pertinho do Bonanza da Rua XV. Conferi e gostei muito e outro dia
encontrei o DVD numa loja da cidade e trouxe para minha coleção de clássicos.
Vi pela segunda vez a semana passada e confesso ter gostado
mais do que da primeira. Muitas vezes acontece isso: o filme quando é bom se
torna melhor após a primeira exibição, porque você acompanha com o senso
crítico mais aguçado, observa mais profundamente os personagens, presta mais
atenção nos diálogos e no desenvolvimento psicológico da trama.
John Ford, o diretor do Homem que Matou o Facínora, foi um
cineasta que realizou grandes filmes no gênero western e também em outras
áreas. No seu currículo temos obras consagradas mundialmente, a exemplo de
Rastros de Ódio, Nos Tempos da Diligência, Vinhas da Ira, Como era Verde o meu
Vale e Paixão dos Fortes.
Não é à toa que entre tantas obras primas do diretor, alguns
elejam O Homem que Matou o Facínora como o melhor faroeste de todos os tempos.
Alguns vão preferir Rastros de Ódio, outros Nos Tempos de
Diligência, mas certamente qualquer um que entenda alguma coisa de cinema
reconhecerá na produção de 1962 uma bom momento da sétima arte.
A gente pode começar a reconhecer os méritos do filme pelo
elenco. John Wayne, um símbolo do caubói norte-americano, tem presença forte no
longa, é o mocinho, embora não seja o personagem principal. James Stewart, ator
de muitas produções de Alfred Hitchcock, interpreta o falso herói da trama, que
tem ainda a boa participação de Lee Marvin, Vera Miles e John Carradine.
No livro “1001 Filmes para se ver antes de morrer” há uma
resenha sobre O Homem que Matou o Facínora. O comentário é simpático ao longa,
mas fica muito aquém das qualidades do filme. Levanta ainda uma crítica que foi
feita quando do lançamento do western, assinalando que John Wayne e James
Stewart estavam velhos quando participaram desta produção.
Estavam mesmo um pouquinho maduros, porém isso não compromete
em absoluto suas interpretações. E os dois estão muito bem, embora Wayne nunca
tenha sido particularmente brilhante. Superava, no entanto, qualquer
deficiência dramática com seu jeitão destemido que o transformou num dos ícones
do cinema americano e mundial. Quanto a Stewart não precisa nem escrever: tanto
é bom num filme quanto Janela Indiscreta, Um Corpo que Cai quanto nesse
faroeste de primeira com a mão certa do John Ford.
O Homem que Matou o Facínora presente começa uma a clássica cena da
diligência viajando pelas terras do velho oeste. O senador Ranson Stoddard
(Rance) chega a Shimbone para o enterro de Tom Doniphon. Um jornalista do
lugarejo fica curioso, pois aparentemente ninguém conhecer o personagem que
trouxe de volta às suas origens um político tão importante.
O próprio Rance conta então a história, satisfazendo a
curiosidade do representante da imprensa.
Advogado recém formado, Ranson é assaltado e espancado por Liberty
Valance, o bandido da história.
Idealista e convencido de que deve agir dentro da lei, Rance
bota na cabeça que precisa levar o marginal à cadeia.
Num restaurante da pequena cidade do oeste americano o
advogado conhece Hallie e Tom Doniphon. Este é apaixonado pela moça e chega a
construir uma casa pensando em se casar com ela.
As coisas vão dar errado para o bonachão do Tom. Hallie
termina se apaixonando por Rance o que vai levar o mocinho à decadência. Ele
morre pobre e esquecido exatamente porque sua vida perde o sentido quando a
moça o troca pelo “almofadinha civilizado”.
Valance é um tipo asqueroso que vive perturbando dos
moradores do lugarejo. Ninguém tem coragem de enfrentá-lo, nem o xerife, que
não passa de um grande covarde.
Embora sem saber lidar com armas, disposto a usar o que
aprendeu na faculdade, Rance aceita o desafio de bater de frente com o bandido.
A mocinha fica preocupada e recorre a Tom, que em mais de uma ocasião salva o
desajeitado advogado.
Mais na frente o bandido vai ser eliminado e Ranson vira
herói, embora Tom Doniphon esteja por trás de tudo. O primeiro casa com Hallie,
vira político e se dá bem. Por onde anda é saudado como o homem que matou o
facínora.
Aquilo o incomoda, mas não tem como se livrar da fama.
Quando tenta revelar a verdade as pessoas não aceitam, preferem continuar com a
lenda.
Quando comparece ao enterro de Tom, acompanhado da mulher e
conta tudo aos jornalistas, Rance como que pretende expiar seu pecado. O mundo,
no entanto, precisa de heróis, e o senador é o herói de um povo. A lenda
prevalece.
O Homem que matou o facínora vai muito além de um simples
faroeste. Lida com mitos, mostra como a versão muitas vezes se impõe diante da
realidade, retrata a transição do tempo da Lei do revólver para a Lei do Papel.
Boa fotografia, bons atores, direção cuidadosa nos mínimos
detalhes, roteiro caprichado, diálogos inteligentes e um pouco de psicologia.
O Homem que Matou o Facínora é mesmo a obra de um mestre.
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