O texto e a poesia, publicados abaixo, foram escritos por Chico Anísio quando se descobriu doente, em 2008. Ambos foram postados pelo humorista em seu blog:
Eu acho que o ideal seria que as pessoas nascessem velhas e morressem crianças. O homem nasceria com 90 anos, ia ficando mais moço, mais moço, até morrer de infância.
Nascendo com 90 anos, você aos 65 se casaria com uma mulher de 59, mas e a recompensa? A cada dia, a cada semana, a cada mês, ela ia ficando mais nova, mais nova, até se transformar numa gata de 20.
Entendeu? E, depois do casamento, vocês dois ficariam noivos, seriam namorados, até chegar ao amor infantil, branco e desinteressado... mãos dadas... (no máximo) e apagando das árvores, os corações entrelaçados.
Você nasceria rico, aposentado e sábio. Começaria a ganhar cada vez menos... até entrar para a Faculdade para ir desaprendendo tudo e ir ficando mais ingênuo e mais puro. Depois a bicicleta, o velocípede, desaprenderia a andar, esqueceria como engatinhar, o voador, o cercadinho... do cercadinho pro berço, as fraldinhas molhadas, três gotas de Otalgan para a maldita dor de ouvido, o chá de erva doce para a dorzinha de barriga...a mamadeira de água, o peito da mãe e, num dia qualquer, pararia de chorar.
Com o tempo correndo para trás, a humanidade regrediria nos séculos até aparecer o último homem: Adão. Último-primeiro quando então, pegando-o na mão, ao invés de soprar sobre ele Deus inspiraria o homem outra vez para dentro de si mesmo.
VIDA E MORTE
Por esses caminhos rudes
que o Destino nos impõe,
entre defeitos, virtudes,
tudo o mais que se compõe,
Morte e Vida se encontraram
e logo reconheceram
quem eram. E se falaram
de coisas que ocorreram.
"Como é que vai essa vida ?"
- perguntou a Vida à Morte.
"Está sendo bem servida ?
Como é que anda esta sorte ?"
A Morte então respondeu:
"Vou vivendo sem reclamos.
Carregando quem morreu
e por outros que chamamos.
E você, que é que me conta
antes que um dia eu te corte ?"
"Viver hoje é um faz-de-conta,
porque a vida é de morte.
Doenças, vírus, bacilos,
desastres em profusão,
os corpos, nos seus vacilos,
provocando infecção...
Mas dá pra espichar os dias
de ficar por esse mundo".
"Não são as más companhias
que te carregam pro fundo ?"
"Não, não" - respondeu a Vida
com um pequeno sorriso.
"Eu sou mesmo uma perdida
que nem vive o que é preciso".
A Morte, então, num deboche,
disse à Vida: "Até um dia...".
A vida é mero fantoche
da Morte e, com tirania,
carregando o seu cajado
que simboliza o poder,
deixou a Vida de lado
pra mais um pouco viver.
vida, que sabe ter
um tempo certo na Terra,
soube, astuta, se conter
(o seu semblante até cerra).
Depois que a morte sumiu
com sua carranca adunca,
a Vida ao seu Deus pediu:
"Que a Morte não viva nunca !"
O blog OABELHUDO postou essa mesma matéria na sexta-feira, à tarde.É muita coincidência (?)
ResponderExcluirDom Pablito
Editor
Os textos são de autoria de Chico Anísio e estão na internet disponíveis para todo mundo. Não sabia que as criações do humorista agora são propriedades dos abelhudos.
ResponderExcluirRoberto,
ResponderExcluirParabés pela materia, e quero me associar a esta homenagem a este grande Cearnse que mereceu o respeito e admiração de todo Pais.
Criança