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O AFEGANISTÃO TEM UM GRANDE ESCRITOR

Quando se pensa no Afeganistão lembramos de guerras, invasões, talibãs, mulheres cobertas dos pés a cabeça, tanques soviéticos, americanos, muçulmanos, fanáticos,  Osama Bin Laden e talvez o livro “O Caçador de Pipas”, que também virou um bom filme.

O Afeganistão, na verdade, é um pouco tudo isso mais nesse artigo interessa sobretudo o livro e seu autor, Khaled Hosseini. Este é médico nasceu no país dos talibãs, mas fugiu da guerra ainda moço para morar nos Estados Unidos. Na América do Norte pode ter uma vida muito melhor do que na terra natal, porém não esqueceu suas origens.

Cerca de cinco anos atrás, Hosseini conquistou o mundo com o “Caçador de Pipas”, uma história envolvendo duas crianças afegãs amigas, dois irmãos, separados depois pelo preconceito, pelos diferentes valores culturais e por uma sociedade atrasada abalada permanentemente por guerras e conflitos tribais.

O médico e escritor podia ser o autor de um livro só. Acredito mesmo que muita gente pensou que Khaled Hosseini iria sumir depois desse primeiro best seller, sem fôlego para continuar com sua literatura, interessante, talvez, só num primeiro momento.

Não é o que acontece. O outro livro do afegão que me chegou às mãos, “A Cidade do Sol”, é tão vigoroso quanto o primeiro. Em alguns pontos mesmo chega a superar a obra inicial. Tanto na riqueza dos personagens, quanto no retrato que traça do seu mal tratado país.

Neste segundo romance, Khaled consegue dar uma boa visão das situações vividas pelo seu povo nos últimos 40 anos. O atraso, a ignorância (não são exatamente a mesma coisa), o machismo extremo, a violência extrema, o estupro diário contra a mulher, as lutas tribais, as invasões estrangeiras, o absurdo praticado pelos talibãs, o sofrimento de seres humanos, mas desvalorizados muitas vezes do que bichos.

Tudo isso está no romance “A Cidade do Sol” e em meio a todas essas situações as pessoas, as crianças e principalmente as mulheres, as maiores vítimas da ignorância e do fanatismo político e religioso.
        
Mariam, Laila, Tariq, Rachid, principais personagens do livro de Hosseini, são tipos para nunca mais esquecer. A primeira a bastarda, renegada até pelo pai, entregue a um homem-animal com apenas 15 anos de idade para levar uma vida de sofrimentos. A segunda, que tinha um pouco de perspectiva, filha de um homem sensível, forçada pelo destino e a brutalidade do Afeganistão a viver a mesma vida da outra.

Rachid é a expressão de boa parte dos  homens do Afeganistaão:. Bruto, violento, ignorante. Um “velho nojento” que acha normal ter duas ou mais esposas, capaz de espancar uma mulher sem nenhuma piedade, praticar todo tipo de arbitrariedade contra pessoas fragilizadas, ficar de consciência tranquila e ainda encontrar apoio nos vizinhos, nos companheiros do mesmo sexo e no regime político vigente no país.

Tariq a certeza de que nem todos os homens do Afeganistão podem ser como Rachid, talibãs, embrutecidos, carrascos, assassinos. É um jovem sensível, carinhoso, capaz de amar e de lutar por seus ideais.

Em cima principalmente desses personagens, dos seus filhos, Khaled constrói um romance belíssimo. Mesmo em meio à dor, ao sofrimento, às trevas. Porque dos escombros, do sangue e das chicotadas emergem pessoas, seres humanos, mulheres capazes de suportar toda a tortura a  opressão sem entregar os pontos, sem desistir. E que na hora decisiva são capazes de atos heróicos, enfrentando com altivez a estupidez e a covardia dos homens.

Khale Hosseini não pode ser comparado a Dostoiésvsky. O escritor russo é muito maior, deixou uma obra mais densa e entra na alma humana, através da literatura, como pouquíssimos.

O afegão, no entanto, de alguma maneira é o Dostoiésvsky do século XXI. Porque projeta o seu pequeno e sofrido país, conta a história do seu povo, mostra como o Afeganistão de hoje é tão atrasado quanto a Rússia do século XIX. E cria personagens, que se não podem ser comparados aos do autor de Crime e Castigo e Humilhados e Ofendidos, no entanto são também bastante fortes para comover, enternecer, sensibilizar e fazer com a gente o que a literatura faz: abrir os olhos, expandir os horizontes, entender um pouco mais do mundo e da alma humana.

O Afeganistão tem um grande escritor. Ele já publicou pelo menos dois grandes livros. E quem sabe com suas histórias chocantes chama a atenção dos americanos e europeus para dar um basta na bárbarie. Sim, porque o que aconteceu e acontece no país islâmico não é culpa só dos afegãos. Muitos povos contribuíram para a catástrofe, inclusive os comunistas soviéticos e os americanos de Bush e Obama.

Um viva à literatura de Khale Hosseini! (Esta resenha literária foi publicada originalmente no jornal Correio Sete Colinas).

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